Caminhei pela rua deserta, em mais uma noite abafada. Ele me esperava na esquina. Não sentia medo, mas uma excitação marcava minha pele num longo arrepio. Pensar no perigo tornava a respiração curta. A verdade é que fui invadida por uma alegria inesperada e fora de lugar: minha sensação de vazio havia sido diluída por um estranho. Até aquele exato instante — além do anúncio no jornal e o brevíssimo contato por telefone — não sabia quem era o homem que me aguardava ali. Ele estava encostado no muro de uma casa abandonada. Quando me aproximei, esmagou a ponta do cigarro no chão. Logo em seguida, acendeu outro. A fumaça saía de sua boca em golfadas rápidas. E então ele disse:
— Você não serve. Não tem medo nos olhos. Não me interessa.
Seu sadismo era um tiro certeiro na única fantasia que ainda restava. Sentei-me na calçada sem vontade de chorar. E o mundo, outra vez, parecia oco.
(*) ESTE CONTO É RESULTADO DE UM EXERCÍCIO PROPOSTO EM OFICINA LITERÁRIA
(*) IMAGEM: Google
Ser recusada até mesmo por um estuprador... é o fim do poço...
ResponderExcluirExpectativas... nem sempre andam junto à razão. Depois do sangue ferver, voltar a uma vida morna... Ótimo conto, envolvente. Abraços
ResponderExcluiruma cena cinematográfica!
ResponderExcluiras fantasias são o germe da razão.
gostei muito!
um beijo.
cena forte essa eh? grande micro! beijos
ResponderExcluir"...única fantasia que ainda restava. (...)E o mundo, outra vez, parecia oco."
ResponderExcluirPorradão Dolce, sarjeta absoluta. Um conto curto e rascante, giz riscando o quadro negro, ui! arrepiou. bjs
FANTÁSTICO!!!!!!
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