terça-feira, 30 de outubro de 2012

Jardim da Loucura





No quarto ano de Psicologia Clínica, uma vez por semana, nos deslocávamos do prédio da faculdade para cumprir estágio num hospital psiquiátrico. Enquanto aguardávamos o professor no jardim da instituição, um dos internos aproximou-se de uma aluna e perguntou onde estavam as balas. Ela respondeu que não tinha bala alguma. Contrariado, o paciente deu um tapa no rosto da moça. Na semana seguinte, ao passar por ele, a estudante adiantou-se:

― Trouxe as balas.

― Balas? 

Mais uma vez, ela levou um tapa no rosto. 

Esse episódio me levou a pensar nas situações (fora dos muros de uma instituição) em que de nada adianta "ter ou não ter as tais balas". O resultado será o mesmo.

(*) Imagem: Google

Estranhos na Noite



Caminhei pela rua deserta, em mais uma noite abafada. Ele me esperava na esquina. Não sentia medo, mas uma excitação marcava minha pele num longo arrepio. Pensar no perigo tornava a respiração curta.  A verdade é que fui invadida por uma alegria inesperada e fora de lugar: minha sensação de vazio havia sido diluída por um estranho. Até aquele exato instante — além do anúncio no jornal e o brevíssimo contato por telefone — não sabia quem era o homem que me aguardava ali.  Ele estava encostado no muro de uma casa abandonada. Quando me aproximei, esmagou a ponta do cigarro no chão. Logo em seguida, acendeu outro. A fumaça saía de sua boca em golfadas rápidas. E então ele disse:

— Você não serve. Não tem medo nos olhos. Não me interessa.

Seu sadismo era um tiro certeiro na única fantasia que ainda restava. Sentei-me na calçada sem vontade de chorar. E o mundo, outra vez, parecia oco.



(*) ESTE CONTO É RESULTADO DE UM EXERCÍCIO PROPOSTO EM OFICINA LITERÁRIA




(*) IMAGEM: Google

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A Mulher Insatisfeita


Escrevia cartas imaginárias, e ainda reclamava nunca ter recebido resposta.

(*) Imagem: Google

Crônica Curta



No quarto ano de Psicologia Clínica fazíamos estágio numa instituição psiquiátrica. Um dos internos, em surto, agarrou o meu braço e disse:

– Se me tirar daqui, caso com você.

Este foi meu primeiro contato com a ideia de que casamento era uma "loucura".

(*) IMAGEM: Google

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Conto Curto



Todo final de tarde o portão enferrujado rangia para lhe dar passagem. Banho rápido. Sopa no jantar.  Hora do noticiário. Ao lado da poltrona de tecido puído, uma pilha de cadernos. Páginas e mais páginas preenchidas pela mesmice de seus dias. Naquela noite, ao abrir o diário, um ligeiro tremor percorreu seus dedos. Deslizou a caneta sobre o papel, e escreveu apenas uma frase: "Hoje aconteceu algo diferente".

(*) Imagem: Google

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Notícias que Não Saem na Primeira Página


Perdeu família, casa e trabalho, mas mantinha os jornais por perto. À noite cobria-se com eles. Pela manhã lia como se ainda fosse o editor.


(*) Imagem: Google