segunda-feira, 30 de julho de 2012

Onde Foi Parar o Final Feliz?




― Cara, nas tuas histórias tudo sempre acaba mal. Por que não escreve uma diferente?

― Você tem razão. Vou mudar isso. Na próxima tudo vai começar mal.


(*) Imagem: Google

O Outro Lado Da Noite




Se pudesse escolher, provavelmente não veria a menor graça naquela mulher. Mas Letícia era intensa como uma festa: uma alegoria das suas melhores lembranças. Com ela recordava o menino que deixara escapar da alma. 

No momento em que o telefone tocou, às duas horas da madrugada, não conseguiu conter o sorriso. Do outro lado da linha, a voz dela:

— Quero conversar.

— Tenho alguma opção além desta?

Ela riu antes de admitir: 

— Você sabe a resposta.

— Só não digo até quando. 

— Eu sempre estou por um triz contigo. E sem rede de segurança. 

— Isto é um pedido?

— Nunca peço nada.

Era verdade. Letícia não pedia. Exigente e fora de controle como uma criança insuportável que acredita ser o umbigo do mundo. E nada poderia atraí-lo mais. Por isso a mantinha a uma distância segura: um milímetro da beira do abismo.

— Faça isso agora. Peça uma coisa cara.

— Diamantes. 

— Desconheço o termo.

— Deve ser porque sou a única coisa brilhante em sua vida.

— Minha luz.

— Acende o abajur. 

E os dois sorriram, ao mesmo tempo, como quem coloca entre parênteses tantas noites solitárias.


(*) Imagem: Google

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Eduarda e Mônaco



Eduarda ouvia Roberto Carlos o dia inteiro, enquanto Mônaco, angustiado por natureza, lia Sartre o tempo todo. O mundo de Eduarda era outro: sem espaço para crises existenciais. Sempre que Mônaco repetia "o inferno são os outros", ela declarava que o segredo do sucesso era mandar tudo para o inferno. Naquela tarde, antes de ingerir o décimo sal de frutas do dia, ao observar a coleção de pinguins de porcelana, em cima da geladeira vermelha, Mônaco reclamou baixinho:

― Só os cafonas são felizes...


(*) Imagem: Google

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Um Homem Sedutor




O mundo de Romero ­­ mais conhecido por Don Romerito ­­ poderia ser o paraíso da sedução. Diante da intensidade daquele olhar, as mulheres rendiam-se fascinadas. Tudo fluía num clima perfeito. Satisfação garantida desde que elas não esperassem nada além dos tórridos momentos de prazer. Por uma estranha coincidência (ou seria abençoada?), suas conquistas amorosas, após alguns encontros, conheciam outros homens, casavam e viviam felizes. As boas línguas diziam que Don Romerito ­­― o amante avesso a compromissos ­­ era devoto de um santo casamenteiro. 

(*) Imagem: Google

quinta-feira, 19 de julho de 2012

O Amor é uma Loucura



Ele: — Eu te amo.
Ela: — Ninguém é perfeito.
Ele: — Me dê mais uma chance.
Ela: — Eu não te amo mais.
Ele: — Ninguém é perfeito.

(*) Imagem: Google

Você Tem Um Minuto?




. Ele acreditava ter vindo ao mundo para dirigir os outros. Certo dia, ganhou um volante.




De tanto recusar-se a tomar partido, criou o "complexo de Pôncio Pilatos". Vivia lavando as mãos.




. Era uma grande atriz fora dos palcos.




Tinha tanto medo da inveja que criou uma plantação de olho grego.



. Para não entrar em contato com seu vazio preenchia a existência como fiscal da vida alheia.


. Era tão reservado que fazia cerimônia consigo mesmo.


. Não conseguiam viver juntos nem separados. Condenaram-se um ao outro.



. Usava sempre as mesmas palavras. Todas as outras fugiam dele.



. Toda sexta-feira protestavam em silêncio contra os fofoqueiros de plantão. Tudo ia bem até o dia em que um deles resolveu abrir a boca.

(*) Imagem: Google

quarta-feira, 18 de julho de 2012

A Pergunta



― Tenho tanto medo da morte.

― E eu tenho medo da vida.

― Quem de nós morreu primeiro?



(*) Imagem: Google

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Nada Filosófico




— Ser ou não ser?
— Sei lá.

(*) Imagem: Google

De Pernas Para o Ar




Esta é a história de Amanda Júlia. Arquiteta bem sucedida, dona de um corpo escultural, bonita e charmosa, sem mencionar o fantástico senso de humor. E não termina por aí. Para completar sua lista particular de desejos realizados, vive um tórrido romance com um homem incrível. Cenário quase perfeito. Sim. Quase. Afinal não poderia agradar gregos e troianos. Neste caso, principalmente certas troianas. Algumas amigas reclamavam de que ela sempre fora ausente. E, depois do novo amor, não queria mais saber de nada, nem de ninguém. Um dia, cansada das críticas (ou seria inveja?), Amanda Júlia pediu ao namorado que a fotografasse com as pernas para o ar. E enviou, para as amigas, a imagem com a legenda espirituosa: "Só assim as varizes me dão sossego".
(*) Imagem: Google

quinta-feira, 12 de julho de 2012

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Quatro Minimalistas Perdidos em Algum Lugar da Gramática



Sujeitinho Oculto

Escondia-se atrás dos verbos.



Voz Passiva

Completamente dominada não tinha vez naquela família.



Bons Tempos

Suas doces memórias de infância brincavam no parquinho de um pretérito mais que perfeito.



Sujeito Composto em Maus Lençóis

Para aquele homem, depois de algum tempo na cama, a mulher e o criado mudo não faziam muita diferença.

(*) Imagem: Google

O Desejo







― Quantas vezes terei que repetir? Sua cota de três desejos esgotou.

― Eu sei. Só queria um pouco de companhia sem interesse.

(*) Imagem: Google



sexta-feira, 6 de julho de 2012

Rapidinhas




A Modesta

― Você se acha!
― Nem com GPS.


O Sincero

― Mestre, qual o sentido da vida?
― Depende do meu humor.



O Desiludido

― Eu te amo.
― Vai passar.




A História  Mais Engraçada do Mundo

Morreu de rir antes de contá-la.





Pequeno Conto Policial

O assassino era o tio.



(*) Imagem: Google



quinta-feira, 5 de julho de 2012

O Casamento de Romeu e Julieta




― Chega de me enrolar, Romeu. Quanto tempo mais terei que esperar pelo nosso casamento?
― Apenas duas décadas, Julieta.
― Vinte anos? Enlouqueceu?
― O que são vinte anos pra quem terá toda a eternidade juntos?


(*) Imagem: Google

Vida Inglória de um Espião Depressivo



O salão abarrotado lembrava uma feira livre. Ao invés de barracas de verduras, escritores gritavam os títulos de seus livros. Um autor equilibrava-se em pernas gigantescas de madeira, enquanto urrava ao microfone: "Pague um, e leve dez".

A todo momento, uma sirene anunciava os preços em queda livre. Algumas pessoas corriam. Para não perder a barganha literária, uma delas quase levou meu ombro. No meio daquele cenário caótico, tive a sensação de ouvir alguém sussurrar. Observei ao redor. Lá estava ele. Em torno dos oitenta anos, pálido e magricelo, o escritor apontava a capa de seu livro. E completamente rouco repetia:

— Leia, leia, leia: "Vida inglória de um espião depressivo". O melhor romance policial do século. 

Sorri ao tentar imaginar a história atrás daquele estranho título. E, então, o ruído estridente do meu despertador, por um instante, lembrava o som daquela estranha sirene.

(*) Imagem: Google

Oficina da Palavra




― Hei! Dá pra atender ou tá difícil?
— Diga lá, moça.
― Vim pegar minha palavra colo. Estava com um defeitinho. Lembra?
— Hum... Colo, colo. Tantas pessoas pediram colo esta semana. 
― Imagino. 
— Conhece nossa nova promoção? Quem blindar a palavra esperança, ganha um novo amortecedor pra palavra macia ou pode mudar as pastilhas da palavra ácida.
― Só vou encomendar outro serviço quando vocês resolverem o probleminha no encosto da minha palavra colo.
— Ih, moça! Seu pedido ainda não ficou pronto.
― Não acredito que vou ter de esperar mais.
— Ah, mas neste caso, a moça ganha polimento na palavra paciência.
― Paciência? Há anos não uso essa palavra.
— Vai ver que é por isso que precisa tanto da palavra colo.


(*) Imagem: Google

terça-feira, 3 de julho de 2012

Segredos de uma Menina


Aos cinco anos foi morar do outro lado do mundo. Um ursinho de pelúcia era seu único confidente.

(*) Imagem: Google

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Na Cama Com Um Milionário



No dia de seu nonagésimo oitavo aniversário, ao acordar da habitual soneca depois do almoço, o ancião milionário se deparou com os familiares em volta do leito, praticamente sentados sobre a cama. Pediu, então, que um dos parentes falidos se aproximasse ainda mais. E sussurrou em seu ouvido:


 A vida é uma criança. 

(*) Imagem: Google

domingo, 1 de julho de 2012

Jornal Emocional - Final




NOTA: Essa é a segunda e última parte do conto "Jornal Emocional". A primeira parte está na publicação anterior.



Ele escreve o primeiro nome no lugar da assinatura, e lê mais uma vez...

Discutir relação não é o meu forte. Você bem sabe: foram precisos quatro meses para digerir sua carta aberta com nosso amor no jornal. Tenho direito (ou seria dever?) à resposta, mas a verdade é que apesar de não ser certo presidente, não sei nada quando o assunto somos nós. Haja nós! Confesso minhas defesas mornas e bizarras. Fiz do caminho uma planilha onde aparecem as tais prioridades pra tocar a vida, minha cara, meu amor, minha amiga. É o que procuro fazer entre a ginástica e os mil compromissos de quem trabalha em televisão. Você casou sabendo que não haveria fim de semana garantido. Nem dia santo.

Entretanto está coberta de razão: casamento complicado... E estamos, neste barco, conscientes de que amor não é passaporte. Remamos para lados opostos e não vamos mais a lugar algum. A paisagem não muda, nem nossos problemas tão antigos, sempre iguais. Essa mesmice poderia ser reconfortante como uma agenda segura que, enfim, indica a hora de voltar pra casa. Olho o relógio. Há anos não chego cedo. Tanto tempo que não temos tempo. E-mails não compensam minha ausência, mas mesmo assim, escrevo pra desejar bom dia, mando um beijo e envio a mensagem. E ainda que soe piegas, não estou pronto pra dizer adeus, enquanto você não parece disposta a esperar. 

E agora? O que faço deste bilhete rabiscado com palavras perdidas? Poderia jurar ter escutado tua voz rouca: 

― Envie para o jornal.

(*) Imagem: Google

Jornal Emocional – Parte 1






Abriu o jornal e leu – apenas para conferir – se publicaram sem cortes...

Não estamos bem. Você sabe. Eu sei. Entretanto, a vida precisa seguir. Não adianta mais fazer de conta que tudo pode ser jogado pra debaixo do tapete. Tantos anos fariam nosso lindo persa – comprado à prestação – colar-se ao teto. Resolvi escrever (nem é muito, mesmo após uma década contigo) e publicar no jornal que assinamos. Por que o jornal? Nossas agendas estão lotadas e não há mais tempo entre um compromisso e outro. Até nos finais de semana. Então, já que estamos tão ocupados, talvez você leia por aqui mesmo, pela manhã, numa pausa entre a bicicleta e a musculação. 

Você e eu somos um caso sério, mas temo não sermos crônicos. E então o amor – que não é passaporte nem garantia – se desgasta quando não respira pelos caminhos da atenção e também da liberdade. E este é apenas um dos nós em nós. Somos independentes demais e, ao mesmo tempo, carentes. Queremos tudo. Não conseguimos mais nos contentar com o que é possível. Nossas fantasias e expectativas nos levaram para o Olimpo e nesse lugar, mortais não têm vez. Nem voz! Você não é meu Zeus. E eu não sou sua Juno. Nem estamos na idade da inconsciência e paixões imaturas. Então, Eros e Psique? Isto também não rola. Talvez, por isso, tenhamos ainda alguma chance. Somos humanos. E aprendemos alguma coisa. Pouco. Eu sei. Você sabe. Depende apenas de nós. Desatemos os nós? Ou nós?


(*) Imagem: Google