domingo, 1 de julho de 2012

Jornal Emocional - Final




NOTA: Essa é a segunda e última parte do conto "Jornal Emocional". A primeira parte está na publicação anterior.



Ele escreve o primeiro nome no lugar da assinatura, e lê mais uma vez...

Discutir relação não é o meu forte. Você bem sabe: foram precisos quatro meses para digerir sua carta aberta com nosso amor no jornal. Tenho direito (ou seria dever?) à resposta, mas a verdade é que apesar de não ser certo presidente, não sei nada quando o assunto somos nós. Haja nós! Confesso minhas defesas mornas e bizarras. Fiz do caminho uma planilha onde aparecem as tais prioridades pra tocar a vida, minha cara, meu amor, minha amiga. É o que procuro fazer entre a ginástica e os mil compromissos de quem trabalha em televisão. Você casou sabendo que não haveria fim de semana garantido. Nem dia santo.

Entretanto está coberta de razão: casamento complicado... E estamos, neste barco, conscientes de que amor não é passaporte. Remamos para lados opostos e não vamos mais a lugar algum. A paisagem não muda, nem nossos problemas tão antigos, sempre iguais. Essa mesmice poderia ser reconfortante como uma agenda segura que, enfim, indica a hora de voltar pra casa. Olho o relógio. Há anos não chego cedo. Tanto tempo que não temos tempo. E-mails não compensam minha ausência, mas mesmo assim, escrevo pra desejar bom dia, mando um beijo e envio a mensagem. E ainda que soe piegas, não estou pronto pra dizer adeus, enquanto você não parece disposta a esperar. 

E agora? O que faço deste bilhete rabiscado com palavras perdidas? Poderia jurar ter escutado tua voz rouca: 

― Envie para o jornal.

(*) Imagem: Google

5 comentários:

  1. Tal vez en la voz interna que nos ayuda
    Un abrazo

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  2. A única vantagem da auto-suficiência é ficarmos insuportavelmente sós.rsrs. Ah, e tem também o problema do eterno não contentamento, mesmo que para tê-lo a gente tenha que abrir mão da almejada indepedência.

    Adorei, Dolce. Abraço grande e ótima semana.

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  3. Belos textos por aqui. Descobri que há mesmo entrega na confecção deles. Me encontrei nas entrelinhas.
    Um grande abraço, menina...

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