quinta-feira, 5 de julho de 2012

Vida Inglória de um Espião Depressivo



O salão abarrotado lembrava uma feira livre. Ao invés de barracas de verduras, escritores gritavam os títulos de seus livros. Um autor equilibrava-se em pernas gigantescas de madeira, enquanto urrava ao microfone: "Pague um, e leve dez".

A todo momento, uma sirene anunciava os preços em queda livre. Algumas pessoas corriam. Para não perder a barganha literária, uma delas quase levou meu ombro. No meio daquele cenário caótico, tive a sensação de ouvir alguém sussurrar. Observei ao redor. Lá estava ele. Em torno dos oitenta anos, pálido e magricelo, o escritor apontava a capa de seu livro. E completamente rouco repetia:

— Leia, leia, leia: "Vida inglória de um espião depressivo". O melhor romance policial do século. 

Sorri ao tentar imaginar a história atrás daquele estranho título. E, então, o ruído estridente do meu despertador, por um instante, lembrava o som daquela estranha sirene.

(*) Imagem: Google

2 comentários:

  1. Quando os escritores não valeram nenhm tostão, sonhar será irrisório e os títulos contraditórios.

    Beijos.

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  2. Vida de escritores é mesmo um sonho feito de pesadelos
    até conseguir sair do animato.
    Uma bela critica amiga.
    Meu terno abraço de paz e luz.
    Bjo.

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